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A Cidade Vive

Atualizado: 30 de out.

A chuva acalmara-se; a água ainda corre pelas ruas arrastando sujeira e pequenas coisas descartáveis. O ar está mais agradável àqueles que não têm teto. A água lava o rosto da cidade como lágrimas lamentando o escárnio que conduz ao desencontro de ações benevolentes. As ruas são como cicatrizes que nos guiam para a ilusão da consciência; a inquietação nos impede de intuir o que as construções têm a nos dizer. Guiamo-nos pelo desejo de tudo agora; a cidade é coagida a destruir pessoas e projetos confinando-os em prisões que os enchem de autoconfiança, mas tão frágil diante do inevitável. A cidade não entende por que nasceu sob ‘apartheid’, minuciosamente arquitetada por planejadores motivados por uma ilusão de superioridade. A cidade parece mais harmoniosa aos olhos daqueles que a sobrevoam. Prédios grandes e pequenos parecem abraçar uns aos outros como velhos amigos. Pequenos seres com grandes aspirações movem-se por ruas e calçadas, sem se olharem, em direção aos bairros cheios de ansiosidade e conceitos territoriais; lá de cima, tudo parece fazer sentido: parques e árvores contornam o desespero que alimenta a violência cotidiana; carros, drogas e prostituição competem com vitrines decoradas para datas comemorativas. A cidade moderniza-se, mobiliza-se, mas não se humaniza — as lágrimas da chuva escorrem apenas pelos prédios.




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